Pratico exercícios desde sempre. Já dancei jazz, nadei, joguei vôlei, fiz aeróbica,
musculação, mas nada disso me tornou uma amante da vida esportiva. O que me
levava a essa movimentação intensa era a consciência de que manter uma
atividade física enrijece o corpo e oxigena a mente, então eu ia em frente sem
pensar em prazer. Era uma necessidade, e pronto.
Aos poucos, fui largando tudo e mantive apenas as caminhadas, essas, sim, não
apenas saudáveis, como prazerosas. Poderia passar o dia caminhando, não tivesse
que reservar um tempo para exercícios cerebrais, como trabalhar e fazer palavras
cruzadas.
Parecia tudo bem, até que uma médica me disse: caminhar é bom, mas não basta.
Está na hora de você suar o top. E me recomendou pilates.
Modismo, chatice, tédio. Todas essas ideias me passaram pela cabeça, mas sou
obediente, acato ordens, e me matriculei num pequeno estúdio a poucos passos
da minha casa, conduzido por um casal de instrutores. Fui cair na mão dos melhores,
posso apostar. Em três sessões, já percebia mudanças no meu corpo, na minha
postura.
Quanto ao tédio, bom, não há tédio na dor. Às vezes, me sinto como se estivesse
treinando para me apresentar no Cirque du Soleil. Recebo ordens inimagináveis:
grude o umbigo nas costas, encolha as costelas, encoste o queixo no peito. Já houve
caso de instruírem um rapaz a contrair o útero! Dá vontade de rir, mas não convém,
temos que nos concentrar na respiração. Juro, com tudo isso, ainda pedem que a
gente respire.
Então, de volta aos exercícios sem prazer?
Pois aí está a novidade: o prazer é de outra ordem. O pilates faz a gente mudar
a maneira de pensar o corpo, o que deve ser a razão do seu sucesso mundo afora.
Ao decidir praticar um exercício, muitas vezes ficamos condicionados aos benefícios
externos de se estar em forma: a saúde é uma boa desculpa, mas a vaidade é que
nos faz pagar a mensalidade da academia. Pois o pilates supera essa visão miúda,
adicionando à prática uma reflexão que vai muito além do desejo de ser admirado.
Quando somos adolescentes, sentimos nosso corpo como parte indissolúvel do nosso
ser. Porém, com o passar do tempo, acaba acontecendo uma dissociação – à revelia,
nosso corpo começa a nos abandonar, a nos deixar na mão. A pele vai se soltando, os
órgãos internos armam rebeliões, as articulações gritam, rangem – não me peça
para explicar, mas nosso corpo ganha vida própria, se emancipa e não nos escuta mais.
O pilates é, antes de tudo, uma reconciliação com esse corpo que se tornou rebelde
e fugidio. Ele sempre esteve a nosso serviço, mas pouco estivemos a serviço dele.
Pois o pilates, feito um cupido, faz com que nós e nosso corpo passemos a nos conhecer
mais profundamente e a descobrir o que nem sabíamos um do outro, mesmo com tantos
anos de convívio.
Basicamente, pilates é o resgate do amor entre você e o que você traz dentro. Mesmo
que seja um útero que você nem tem.